domingo, 19 de outubro de 2008

Desconstruções - Martha Medeiros, com pequenas modificações, como de costume!


Quando a gente conhece uma pessoa, automática e involuntariamente, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, com as nossas expectativas e também tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos (ou não).

Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade sim, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.

Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por um alguém autêntico.

Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é só no começo. Uma vez o romance engatado, teoricamente as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.

Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco! Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir e chegar ao infeliz veredito: o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento tão nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa. Coitadas, desse tipo de gente eu tenho dó!

Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venhamos a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé. Afinal, todos nós resistimos a aceitar que alguém que um dia tanto amamos não é (e nem nunca foi) especial.

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