quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Segredos livres de cadeados...

Nada mais verdadeiro: segredo deixa de sê-lo a partir do momento que contamos para alguém. E sabe de uma coisa? Minha vida é um livro aberto. Não tenho vergonha do que fiz e tudo acontece por alguma razão. Mesmo das coisas erradas sei que posso tirar uma boa lição.

Não que eu grite aos quatro cantos do mundo o que fiz ou deixei de fazer, mas é tão bom saber que existe alguém em que podemos confiar completamente, compartilhar alegrias e tristezas. Alguém que nos escute de coração aberto, sem julgamentos e que seja capaz de se sensibilizar com as nossas histórias.

Conselhos são sempre bem vindos. Mas cabe a mim, e somente a mim, a decição de como vou conduzir a minha vida. Eu quero ser livre... e sinto que para isso preciso de pessoas especiais ao meu lado. Todo mundo tem um sonho secreto, escondido sob às névoas de nossa alma tantas vezes tão confusa que nem sabe o que quer.

Eu quero mais é somar coisas boas na minha vida! Multiplicar os sorrisos, pois a alegria daqueles que me são queridos também me fazem bem. Dividir as dores. Por mais que muitas vezes não possamos fazer nada além de escutar, um simples desabafo e um abraço na hora certa podem fazer TODA a diferença.

Eu não quero ser só mais uma na Terra. Quero me jogar no mundo e viver de corpo e alma. Sou pura emoção e gosto de me entregar em todas minhas relações, seja entre amigos ou amores. Hoje vejo a sinceridade como um DOM e aprecio quem consegue falar a verdade mesmo sabendo das conseqüências que pode vir a sofrer.

Não sei se tenho segredos. Talvez os tenha até para mim mesma! Não sei se isso é um defeito ou uma qualidade... mas gosto de ser transparente. Mesmo vivendo de ilusões e acreditando na bondade das pessoas (e tendo me decepcionado bastante nos últimos tempos) acredito ser uma melancólica feliz.

Pode até parecer estranha essa antítese, mas não há como negar: somos realmente seres dicotômicos. Hunf, quem sou eu para discordar de Platão? Na dialética platônica, um só ser poderia ser repartidos em dois outros, incrivelmente CONTRÁRIOS e COMPLEMENTARES, os quais abarcariam toda a extensão do primeiro, trazendo assim a plenitude carnal e espiritual. Sóóóóó, rs! Isso foi profundo... Eu me sinto assim, será que você também?

Sou como a LUA, que precisa do brilho das estrelas para poder se mostrar na imensidão do céu. Muita pretensão a minha ser o SOL de alguém... mas estou me candidatando ao cargo, pois quero iluminar quantos caminhos estiverem ao meu alcance, pois o amor é infinito e não tem limites.

"Embora não pareça, a dor vai passar...
Lembra se puder! Se não der, esqueça!
De algum jeito vai passar...
O Sol já nasceu na estrada nova
E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar!"


Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Rifa-se um coração - dizem que esse texto é da Clarice Lispector, mas não sei não, rs!


"Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos, acredite! Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, MUITO machucado, que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.

Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...". Um idealista, um verdadeiro amante sonhador.

Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional, sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração não tem medo: erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei meus sentimentos em primeiro lugar. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder seu estilo e seu charme.

Oferece-se um coração vadio, sem raça e sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta."

Um dia alguém irá adotá-lo verdadeiramente e vai amar suas qualidades e defeitos. Entenderá que ninguém é perteito e conseguirá admirá-lo por ser assim, do jeitinho que ele é!

domingo, 24 de agosto de 2008

Vai passar, eu sei que vai... - Texto de Caio F. de Abreu, com pequenas modificações (como SEMPRE!)


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí. Haverá sol quase todos os dias e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso, às vezes cruel por não permitir que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados (só as vezes!). Alguns, sim - nós, não. Somos fortes! Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse nosso jeito de continuar, o mais eficiente é também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais (essa é uma boa fuga). Fumarás muito (se é que fumas) também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Inicialmente, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada, não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência".

Então, haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeiras tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e dos velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio.

E morbidamente talvez, enumeres todas às vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente fingirás - acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho.

Achando graça, pensarás com inveja na largatixa regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais. De tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (só para desabafar, contar, contar e contar). Talvez até escrever uma carta, que de tão desesperada alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Calma, já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes muitas vezes - como um mantra ou como quem masca- e ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ... e como sempre, continua, pois a vida sempre continua e tudo há de passar.

A vida muda quando a gente muda!