quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nas asas do tempo - Neandro Vilalva Miranda





"Eu quero ter apenas o medo suficiente para que eu possa vencer.

Eu quero ser criança e reaprender a voar.
Sim, porque eu voava. Eu voava sobre as planícies e observava os animais selvagens formarem figuras geométricas enquanto corriam.
Eu sentia o vento no rosto e me deliciava com o frescor da manhã.
Subia cada montanha e me jogava de cada pico.

Agora, eu sempre preciso de escadas.
Eu sempre preciso pensar antes de pular.
Foi-se a espontaneidade e nem pareço ter liberdade.

Eu só precisava dormir.
Mas dormir era tão mais simples. Eu só precisava ouvir histórias para depois vivê-las.
Agora as histórias parecem tão mais desinteressantes - quando não cruéis.

Finais felizes nem eram necessários.

As histórias deixaram de ser contadas à beira da cama.
As canções não são mais de ninar.
Eu já nem sei quem é o monstro; e não sei quem é o príncipe ou a princesa.

Tudo se transformou.

O tempo tomou minhas asas e aprendeu a voar.
Mas o tempo apenas cumpre seu papel.
Não está pior. Está mais difícil.

Finais felizes ainda não são necessários.
É preciso viver a história.
O começo pegou carona com o tempo e o fim nunca pertenceu a alguém."

Simples assim...





Voltei!!! Assim como uma phoenix, resolvi renascer das cinzas. Se as minhas lamúrias resolvessem as minhas angústias e as do mundo, estaria feliz. Mas não... Então o jeito é sacudir a poeira e tirar das dores a força necessária para continuar e das cicatrizes as mais importantes lições. 

Aqui estou eu, com 26 anos e posso dizer pouco mudei desde que comecei a escrever esse blog. Estou um pouco mais madura e calejada pela vida, mas a essência continua a mesma (droga!). Minto dizendo que meu coração se tornou mais peludo, indiferente as pessoas e a falsidade que me rodeia. Doce ilusão! Só meu travesseiro e alguns poucos amigos sabem a tristeza que sinto ao voltar para casa e ver que meus problemas e decepções são os mesmo de alguns anos atrás. 

As pessoas são extremamente decepcionantes, brochantes e previsíveis. Preste atenção aos sinais, mantenha o silêncio e observe mais. Você entenderá com exatidão o que estou dizendo e poderá, no mínimo, se preparar para o pé que vem em direção à sua bunda e limitar suas frustações.

Será que um dia vou cansar de ser essa romântica incurável? Essa boa samaritana que vira e mexe as pessoas usam, abusam e depois passam para trás? Acho que não... Bom coração é que nem caráter, você tem ou não tem, simples assim! E eu ainda sonho em trabalhar no Médicos Sem Fronteira e na ONU. Para quem achava que eu ia desistir e me curvar ao mundo capitalista, pensando só no salário que a vida de médica poderia me proporcionar, so sorry! Para mim o sorriso e a gratidão de um paciente não tem dinheiro no mundo que pague. Meus ideais permanecem e minha fé acompanha cada um dos meus passos.

Confesso que estou cansada... Cansada de sonhar em um mundo do qual não pareço não fazer parte e que não me pertence. Cansada de tentar realizar sonhos que não dependem só de mim. Em alguns dias é mais difícil encarar a realidade e dá uma vontade enorme de desistir de tudo que acredito ser puro, real e verdadeiro.  Um bom coração, às vezes, mais parece um fardo o qual temos que carregar...

Estou sendo pessimista? De jeito nenhum! Realista? Nem tanto, pois me recuso a tirar meus óculos cor-de-rosa que me fazem ver em tudo o seu melhor. E quando tudo parece estar errado, eu não tenho medo. Respiro fundo com a certeza de que em toda escuridão há de haver a chama da espença. Luz essa não mais piegas e ingênua como nos tempos de infância, mas ciente de tudo que a rodeia, mantendo-me firme em meus objetivos. 

Passei muito tempo procurando por estrelas-guias que pudessem dar um rumo a minha vida ou iluminar meus passos, porém compreendi que a única que pode dar sentido a cada um dos meus dias sou eu. Agora a busca é interna. Talvez ainda mais complexa, porém valerá a pena!

"Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena" - Clarice Lispector